sábado, 3 de abril de 2010

Entender sem julgar

Olha, sei que é mais fácil passar notícias e falar apenas das coisas mais simples, mais fáceis de ler, sem precisar se proteger do que diz ou escreve. Porém, acredito que o ser humano não pode nem deve fugir do polêmico, se esse polêmico vai ajudar a outros seres a pensar ou repensar suas ações e convicções.
Estou falando da polêmica das idas e vindas de Vagner Love e Adriano, jogadores do Flamengo, às favelas cariocas. O Imperador já repetiu por várias vezes que voltou da Europa, onde tinha um belo contrato com a Inter da Itália, porque não se sentia confortável, queria se sentir em casa. Vagner Love foi filmado num baile funk na favela da Rocinha, protegido por rapazes armados com fuzis. Ao ser questionado respondeu que se sente bem na favela e que não tem envolvimento com a criminalidade. Falou da dificuldade de conviver com o estigma de ter a todo o momento que provar que não é do mal, que quer apenas usufruir da simplicidade de viver onde é reconhecido e querido por todos.
Vamos analisar: é muito bom ser reconhecido por amigos e conhecidos, ser querido por ser você mesmo e não pelo que você faz, ter a liberdade de ir e estar onde bem quiser, falar com quem quiser, sem aquela de com quem está falando. Cada um tem que tomar conta da sua vida. Mas, e o outro lado também está vendo apenas essa necessidade de “estar em casa”? E se estiver usando a fama desse “carente” para furar a barreira que o separa dos ainda não iniciados? Nesse mundo cão, onde o dinheiro e suas benesses falam mais alto que os valores morais, como acreditar que os carentes famosos não terão seus nomes e comportamentos utilizados para atrair mais fregueses? Podemos usar o simplismo de que cada um cuida da própria vida, quando sabemos que os métodos utilizados para atrair não são os mais justos? Que pessoas são treinadas para incutir nas cabeças menos avisadas de “dar uma provadinha” que não acaba mais?
Vamos continuar: as dificuldades de se encontrar um emprego que dê tranqüilidade para manter a família, a fome, a discriminação, o preconceito de ser “pobre e morar longe”, a falta de oportunidades, a falta de uma política efetiva de “educação e cultura” que resgate o cidadão embutido nos “bolsas” em que virou esse país, a marginalização do menino ou menina que nasceu na periferia e que tem que viver de “olho-comprido” na vida fácil que acontece na telinha, que não tem mais pai nem mãe em casa porque ambos tem que ir buscar o sustento, que vê pai e mãe levando a velha avó prá tomar aquele empréstimo que toma a parca aposentadoria, que vê e ouve que existem homens que deveriam estar defendendo uma melhor qualidade de vida para os mais carente e que roubam descaradamente os recursos e que a cada dois anos estão comprando a consciência com a promessa de um emprego, de tijolos para a casa quase caindo, os sacos de cimentos que nunca chegam, os botijões que estão cheios mas as panelas estão vazias. Então chega aquele cara que faz uma proposta que a princípio sente que tem algo errado porque é pedido segredo, mas que pode diminuir a fome, a vergonha de não ter aquela roupa do cara da TV, ajudar a melhorar a parede da casa que insiste em cair. O que fazer ?
Sei que é mais fácil fazer de conta de nada está acontecendo. É mais fácil culpar uns e outros e ficar tranquilamente “em paz com todos”. Não quero provocar uma guerra. Não quero apontar quem está certo ou errado (apesar de ser muito mais fácil). Quero é convidar você para pensar sobre o assunto. Quero é fazer com que saia do comodismo opinativo e entre de cabeça no como entender e viver a realidade que bate à porta e que mexe e muito com a nossa vida.
Adriano e Vagner Love estão corretos no que dizem e vivem? Podem viver como quiserem sem se importar com a atual condição de ídolos que são? Eles têm ou não o direito de viver como melhor acharem se afinal, a vida é deles?
Você, como faria se estivesse no lugar de um deles? Abriria mão da sua própria forma de encarar a vida para viver como ditam as pessoas ao seu redor? E se você estivesse no lugar daquele menino ou menina faminto, discriminado, o que faria? Vamos pensar, analisar, procurar entender sem julgar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário