sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O Campeonato, o Torcedor e a Imprensa

Aê! Depois de uma boa e disputada série A2/2010, onde o Estanciano retornou para a divisão especial e o Socorrense tornou-se campeão; depois que o Sergipe praticamente dispensou um elenco e contratou outro; depois que o Confiança trocou algumas peças do time do campeonato passado; depois que o Itabaiana contratou novo elenco; depois que o River Plate assumiu-se como time do grupo de elite do futebol sergipano; depois da grande festa patrocinada pela Federação, oficializando a abertura do campeonato 2011; depois de o governador receber a mesma homenagem, que receberam esportistas da estirpe de José Eugênio de Jesus, José Antonio Marques e Carlos Magalhães; e hoje, depois de escutar o comandante do destacamento policial que vai trabalhar no Batistão, no próximo domingo, afirmar que as torcidas devem se comportar num jogo de futebol, como se assistissem a uma partida de tênis, sinto uma enorme saudade do tempo em que era simples torcedor e de como era gostoso torcer.

Como era bom ir ao Batistão com o amigo Edvaldo, cada um torcendo pelo seu time; mas juntos na cerveja com churrasquinho, no pastel com caldo de cana, no picolé de côco, no pacote de pipoca, de rolete de cana, da laranja azeda cujo bagaço jogávamos no batedor de lateral ou no bandeirinha (mesmos sabendo que não “acertava dali” ), voltar prá casa a pé ouvindo Wellington Elias no radinho sem fones-de-ouvido, tudo isso sem o medo das torcidas organizadas ou do cassetete da polícia. Chegávamos cansados. Mas tínhamos “resenha” prá semana toda. Vado, no 28 BC,quartel do Exército, onde era oficial; eu, na Caixa da rua Geru discutindo com Sérgio China, Ademar, Ademir, Dórea e tanto outros amigos-irmãos.

Outro dia estive conversando com Eraldo Cajé,um dos grandes torcedores do Sergipe. Ele se lembrava das várias viagens com a família, acompanhando o time nos campeonatos sergipano e brasileiro. As dificuldades, as alegrias, as tristezas, tudo pelo seu vermelhinho. Diz que hoje não vai mais ao Batistão. Uma vez, teve que ficar quase meia hora dentro de um ônibus, que foi apedrejado pela torcida organizada do seu time. Numa outra, com a dificuldade que tem para caminhar, usa muleta, teve que correr para não apanhar da polícia que batia em qualquer camisa vermelha que estivesse ao alcance. Além de não poder mais nem gritar pelo vendedor de picolé, prá não ser confundido como se estivesse torcendo por um dos times em campo, e correr o risco de ser colocado prá fora do estádio ou pior, ser colocado “numa viatura” e levado para uma delegacia.

Sinceramente. Por amor, fiz curso de radialista, treinei bastante, comi o pão que o diabo amassou nas transmissões e estádios, troquei os domingos de praia e descanso com a família, por cabines desconfortáveis; consegui aposentar da Caixa, para ter mais tempo para me dedicar ao hobby que mais gosto; deveria estar feliz, mas vejo que a cada dia sou mandado prá casa, prá fazer alguma coisa que não me traga tanta angústia e aflição. Como estar feliz, vendo um garoto-governador recebendo a mesma honraria de quem tanto fez pelo futebol, como um Wellington Elias, um Carlos Rodrigues, um Alceu Monteiro, um Fernando Pereira? Como estar feliz, se o bonito do futebol é a alegria que vem das arquibancadas, através das torcidas, que não podem torcer? Gente, nada tenho contra Déda. Mas não bastava a lembrança, sem o mesmo troféu? Não aprovo as violentas torcidas organizadas. Mas não dá prá baixar o cacete apenas em quem estiver promovendo ou participando das brigas? Por que tanta proibição? Se for prá cumprir o Estatuto do Torcedor, precisa começar proibindo o torcer? Sem a manifestação livre da torcida, prá que ir ao estádio?

Quer ver mais? Acompanhe a rigorosidade com que está sendo exigida a identificação dos profissionais da imprensa, para o acesso ao estádio Batistão. Só entra com carteirinha da ACDS. É o certo. Mas porque essa rispidez toda? E “os outros” que não são da imprensa? E as “autoridades”? E os “convidados”? Será que só os da imprensa colocavam extras no estádio? Repito: não está certo. Só deve entrar quem tenha direito de acesso – seja com ingresso ou com carteira, mas ficou parecendo que a evasão enorme nos estádios em Sergipe, é realizada pela imprensa esportiva. E todos sabemos que não é.

Não, não vou dizer o que devem fazer! Quero apenas é ter o direito de ser torcedor. Gritar, Xingar, Chorar, Pular, Azedar, fazer tudo o que me é de direito num jogo de futebol. Não sou militar para fazer “ordem unida” num estádio. Não estou no quartel, para esconder meu desejo de extravasar meu amor pelo clube que escolhi torcer. Não preciso me reprimir, como aconselha Raimundo Pingo Macedo, para ser educado e apenas bater palmas a cada jogada bonita, feia, erro do juiz, ou gol do meu time. Quero é estar com a Canarinho Chopp, cantando o hino do Canarinho Impiedoso, bebendo o meu chopp e deixando rolar a alegria. Se exagerar, me mande embora descansar em casa. Pressão basta a da luta pela sobrevivência. Que os maus humorados pensem nisso, e me deixem viver e torcer em paz. Sou cronista, mas antes, torcedor.
Té mais vê !

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