quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O Sub-20 e o Torcedor

Tem coisas no futebol que só quem vive seu dia-a-dia sabe e tenta entender. Como entender que numa região de sol tão forte, de calor tão intenso, fossem programadas partidas de futebol, um esporte rústico, onde se depreende muito esforço, para serem jogadas no período de pico de aproximadamente 35, 40 graus? Como entender que sejam levantadas todas as condições para a realização de um campeonato de futebol, e em 41 artigos do regulamento desse campeonato, apenas no artigo 15 o torcedor é mencionado, e só para dizer quanto ele vai pagar?

Não me causou surpresa o posicionamento do presidente da Sociedade Médica de Sergipe – Somese, Dr Petronio Gomes, quando demonstrou ter ficado estarrecido com a marcação de partidas pelo campeonato sergipano de futebol categoria sub-20 para começar a uma e quinze da tarde. Surpresa seria se membros da Federação ou quem sabe até um Conselho Tutelar, ou Ministério Público da vida, prestassem a atenção num detalhe tão perigoso para a saúde de garotos que se providências não forem tomadas, ficarão expostos a temperaturas elevadas, colocando em risco a saúde, em nome de uma economia de alguns reais.

Se você não observou, o regulamento do campeonato sergipano de futebol de 2011 tem 41 artigos assinados por Gilson Dórea, e em apenas um, o 15, toca naquele que deveria ser a causa maior para a existência do circo futebolístico, o torcedor. E pior, só fala nos preços dos ingressos e naqueles que por lei pagarão menos ou têm acesso liberado (imprensa, autoridades, etc,etc.). Por isso que não causa estranheza o fricote do Sergipe em deixar seus torcedores por mais de 30 dias sem uma notícia sobre a montagem do elenco e da comissão técnica. Prá que se preocupar se o torcedor só tem mesmo a obrigação de ir aos estádios e torcer? As cabeças iluminadas do futebol resolvem tudo. Pena que nunca dá certo.

As chamadas “jóias brutas” do futebol realmente são tratadas como tal: a martelada e esmeril para lapidá-las. Os garotos são colocados em ônibus pequenos e velhos, almoçam “leve”, normalmente são comandados por “abnegados”, não têm direito a médico, preparador físico ou massagista – todos são substituídos pelo entregador-de-água, e são assediados de tal forma pelos chamados “empresários” que muitos nem sabem a quem “pertencem”. Só quando “sobem” para o time-de-cima ou são “vendidos”, é que passam a ser olhados como mercadoria-com-futuro, e a terem um pouco de respeito, não pela pessoa, mas pelo jogador, pelo futebol que joga.

Torcedor só tem valor na hora de fazer a festa na arquibancada e tomar porrada da “lei”. O clube vende, compra, troca, faz e desfaz sem consultar ao torcedor. Quando nada dá certo, faz de conta que pede orientação, faz de conta de que a torcida tem algum valor, pede ajuda, e o torcedor deixa de comprar a bicicleta de segunda mão para ir trabalhar, para apoiar seu time “em dificuldades”. Logo aparece um “grande homem” para resolver tudo e claro, ficar com tudo também. Até porque foi o “grande homem” quem “investiu” no clube na hora em que ele mais precisou e o transformou num campeão. Ah! O cara que deixou de compra a bicicleta de segunda mão? Exibe uma bela e cara camisa, deixou de pagar a escola do “minino” prá isso, e seu melhor jogador está num time do sul do país.

Tudo bem, torcedor e Sub-sub é prá isso mesmo. A gente se vê amanhã. Té lá então.

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