quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Dá aquela dorzinha

Tô aqui lendo algumas matérias na internet. Adriano pode voltar ao futebol brasileiro, agora via Corinthians. Lucas do São Paulo, vai esticar seu contrato até os 20 anos, quando deverá ir para o exterior. Phelipe Coutinho é estrela na Itália e pouco jogou no Vasco. Tem um Mateus estraçalhando no campeonato inglês, que nunca foi profissional no Brasil. Vinicius jogou no Junior do Sergipe e disputa vaga no profissional do Cruzeiro. Roberto Carlos voltou, está no Corinthians e é apontado como um dos melhores da posição no campeonato que termina domingo. Ronaldo Fenômeno é peça importante no timão.

Ai comecei a lembrar dos bons tempos, em que o jogador aparecia em nível de Brasil para o profissional, jogava no time de cima, e quando não trocava de time, aposentava pelo mesmo que começou. Ou só saia para o exterior quando era ídolo por aqui. Caso de Pelé, Zico, Rivelino e tantos outros.

Torcedores dos grandes clubes nacionais assistiam esses craques jogar, no auge das suas carreiras, quando eles faziam até chover com suas jogadas maravilhosas. Elencos que até guardamos na memória nem sempre pelos títulos, mas pelas disputas acirradas dentro das quatro linhas. Tempo em que dava tempo de conhecer o jogador, saber da sua vida pessoal, como se fosse um amigo.

Hoje o garoto dá o primeiro chute e já aparece um empresário que o leva para outro Estado, ou leva para outro País, e quando menos se espera ele está na Tv fazendo o maior sucesso. Mas ninguém o conhece, ninguém o viu crescer, não tem os amigos de infância, não teve a “turma sua idade”. Lembra que o Adriano voltou da Itália onde era ídolo, para viver entre amigos e conhecidos? Que dizia ter tudo, mas não tinha a amizade, o companheirismo encontrado só com quem se convive desde que nasceu? Veja o Messi. Quantos o conhecem na cidade argentina onde nasceu? Com certeza não passa “do filho de seu fulano que joga na Espanha”. Não é “alguém que nasceu e se criou aqui, que todo mundo conhece”.

Então os caras que podem vêm, compram os jogadores ainda verdinhos, esperam o amadurecimento, aproveitam o melhor da carreira de cada um. Quando o cara já não acompanha o ritmo forte do alto nível, volta para jogar por aqui, onde o nível é mais baixo e ele ainda consegue superar os que por aqui ficaram, tornando-se campeão e ídolo, no acaso da vida de atleta.

Ou seja, sobra para a periferia do mundo, o quase - inicio e o fim das belas carreiras. O melhor momento de todos eles é desfrutado por aqueles endinheirados que pagam mais, e que por isso podem usufruir o melhor em tudo. Isso em nível de Brasil.

E quanto a nós que somos periferia dos grandes centros? Estância, por exemplo? O garoto entra no Juventude, participa da Copa Cidade Jardim, se destaca, não passa nem pelo Estanciano. Vai para o Vitória, Santos, São Paulo, Sport, Internacional, Cruzeiro, e para os muitos departamentos de base por esse Brasil a fora. Os Edís, Marcelos Sergipanos, Chinas, Sidneis, só os vemos jogar enquanto eles estão enchendo o saco dos veteranos nas peladas de finais de semana. Depois, só na volta, quando estiverem participando do campeonato da Lucafe. Antes ainda apareciam levados pelas mãos de um tio ou amigo do pai, no Sergipe, no Itabaiana ou no Confiança. Hoje, nem isso mais.

Nossos times estão cheios de jogadores de qualidade duvidosa, garotos banana-que-deu-cacho, “craque-do-paraguai”, que não têm qualidade de sair para jogar fora daqui. Porque aqueles que ao dar os primeiros chutes no caroço, mostram um mínimo de habilidade, são imediatamente levados para “quem pode pagar mais”. Isso numa escalada que começa na Estancia, para por Aracaju, vai ao eixo Rio-São Paulo, e desemboca na Europa ou nos países dos petrodólares.

Não assistimos mais um João Cego, um Tarati, um Barata, aqui por Estância. Não vemos mais um Deri, um Naninho, um Ailton, Um Edmilson, um Tiquinho, um Mirobaldo, um Debinha, um Evangelista, um Nininho, um Luiz Carlos Bossa Nova, em Aracaju, Itabaiana, e tantos outros municípios de Sergipe que disputavam o campeonato sergipano. Craques que nos faziam viajar de pau-de-arara, para vê-los desfilar ante os famintos e sedentos olhos, embevecidos pelo espetáculo do futebol arte. Ah, isso dá uma dor de corno....

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